
M062.Quem ousa
estar aberto como o deserto
sem caminhos definidos?
Sem conceitos prontos
ou razões emprestadas,
sem pedir caronas
que nos levam a nada...
Quem ousa
optar pela folha em branco
antes de consultar o livro,
escrever sua própria verdade
antes de considerar
as que nos são vendidas?
Quem ousa se ouvir por dentro
e, obedecendo seu próprio pensamento,
ser teimoso até as últimas conseqüências?
Deixar-se pendurar na cruz,
mas não desistir de sua missão?
Quem ousa caminhar sozinho
se o seu rumo pede outro caminho?
Fazer-se queimar, morrer na fogueira,
mas não abrir mão da sua poesia?
Quem ousa ser pobre e, pela estrada,
nada carregar, nada tendo a perder,
a não ser o medo?
Quem ousa tirar as viseiras
e se deixar guiar pela paixão,
jogar tudo numa só rodada
e viver, em cada agora, a vida inteira?
Este que assim ousar,
santo, heroi, mártir ou insano,
este merecerá o nome de homem,
de ser humano.
Os demais, os comuns, os restantes
seremos eu.